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sábado, dezembro 19, 2009

Silêncios - 1º prémio do concurso de poesia "Ora vejamos... 2009"





















SILÊNCIOS

Encontramos a praia deserta. Com os olhares fugidios,
ensaiamos alguma conversa de mistérios abertos
na seriedade do momento musicado pelas ondas do mar
e pelos gritos das gaivotas tristes, mas brancas.
O silêncio está sempre ocupado, mesmo quando não há palavras;
portanto, as reticências podem prolongar-se em suspiro longo,
os pontos finais deitar-se ao abandono do ar fresco.
A manhã parece cheia de vazios repletos de sensações
e as palavras vão ganhando agilidade, ritmo, alguma emoção,
enquanto os silêncios de mar calam brisas ainda húmidas.
As gaivotas alinham-se agora, sentadas na areia molhada,
enquanto batem os corações que as olham, descompassados.
Sentimos o ar tão quente, que queremos ter asas também,
voar contra o vento de penas leves em desalinho.
Enterramos longe as pesadas penas de ontem.
Ainda há pouco o tempo parou em todos os relógios.
E nós deixámos.

Isabel Solano

Sereno refúgio - 3º prémio do concurso de poesia "Ora Vejamos... 2009"




















SERENO REFÚGIO

Sei que a brancura dos dias é aparente
E que a noite se há-de deitar devagar
Entre nós, o oceano, o meu país cansado
E o teu, que ainda escuta ardente
Os rumores que lhe chegam do mar.

Sei que o vento que hoje sopra violento
Amanhã será brisa ou quase nada
E que as nossas vozes, que hoje cantam
Melodias ridentes, inventando sinfonias,
Hão-de ser lágrimas, como o orvalho é geada.

Sei que não crês no que te digo triste,
E me devolves um sorriso que diz que existe
Mais do que este constante movimento
Descendente na minha razão tão escura.

Sorris. Ou ris-te de mim, ainda não sei.

Mas sei que a toda esta imparável mudança
Resiste firme a tua esperança, sólida
A tua mão na minha. E que a tua voz,
Essa, nunca vacila quando a noite vem
E me anuncia a ternura sempre renovada
De um outro dia que se aproxima.

Isabel Solano

sábado, dezembro 12, 2009

Ilusão inalienável


Ora, quero lá saber da chuva,
do vento que uiva lá fora,
do rio furioso que transborda,
dos raios, dos trovões,
de todas as intempéries!

Quero antes aquecer ilusões
à lareira, todos os serões,
de portas e janelas bem fechadas,
para que das chuvas ácidas
que afogam esse mundo estranho
no meu mundo nunca entre nada!

19/11/2007

Bárbara Pais, in In Vida Veritas, inédito, 2007
Foto: Isabel Solano