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sexta-feira, novembro 09, 2007

Abre-me os braços!


CAMPOS DO ALENTEJO

Áreas que só na alma
encontram suas árias

Mas não virão guitarras
à noite acompanhá-las

Nem o voo das harpas
Nem da neve os fantasmas

Um coro de chaparros
em brados abafados

é sempre o que lhes cabe
é sempre o que lhes basta

Ó crua luz da tarde
logo que a manhã nasce

Por mais que a noite caia
na cal tudo ressalta

E a sombra de um arado
como um A muito amargo

ao qual se limitasse
todo o abecedário

De guerras tantas grades
de fomes tantas pragas

nas lavras destas áreas
os tempos semearam

Abre-me ó terra os braços
como só tu os abres

Até mais graves sabem
tornar-se aqui as aves

David Mourão-Ferreira, in Obra Poética, Presença, 1988

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