
CAMPOS DO ALENTEJO
Áreas que só na alma
encontram suas árias
Mas não virão guitarras
à noite acompanhá-las
Nem o voo das harpas
Nem da neve os fantasmas
Um coro de chaparros
em brados abafados
é sempre o que lhes cabe
é sempre o que lhes basta
Ó crua luz da tarde
logo que a manhã nasce
Por mais que a noite caia
na cal tudo ressalta
E a sombra de um arado
como um A muito amargo
ao qual se limitasse
todo o abecedário
De guerras tantas grades
de fomes tantas pragas
nas lavras destas áreas
os tempos semearam
Abre-me ó terra os braços
como só tu os abres
Até mais graves sabem
tornar-se aqui as aves
David Mourão-Ferreira, in Obra Poética, Presença, 1988
Sem comentários:
Enviar um comentário