
O GATO DITO DOMÉSTICO OU DE LINEU
Primo em linha recta do Gato Legível, uma nem sempre fundada tradição de abandalho pesa sobre a origem egípcia, eminentemente cruel e aristocrática, dos da sua espécie. O GATO urina com êxito nos objectos de lar, e quando a angina estala enfim os peitos da patroa que julgou poder fretá-lo para pequenas voltas, O GATO esfrega os olhos, abre uma janela, e voa toda a noite, de barriga para cima. Nestas surtidas voantes encontra-se por vezes com os seus camaradas libertários, e então acendem fogos que, uma vez por ano, formam cortejo em direcção à Lua, onde um gato já cego os devolve aos espaços, transformados em cinza e em máquinas de luar.
Mário Cesariny, in "alguns mitos maiores alguns mitos menores propostos à circulação pelo autor", Manual de Prestidigitação, Assírio e Alvim, 1980
Foto: Isabel Solano
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