
Cala-te mar!
Não tentes cobrir a minha voz
com o furor da tua boca de espuma
onde nem há rogos de náufragos nos rasgões do vento.
Cala-te, mar!
Não me obrigues a rugir mais alto do que tu
numa indignação de tempestade de silêncio
que lança raios dos homens para as nuvens.
(...)
O que queres é berrar, berrar uma dor qualquer sem sentido
para cobrir a minha voz de protesto de espada
-terrível como um grito insuportável de doer.
O que queres é berrar
-mar inútil! Mar enorme! Mar que dás a volta ao mundo
e és tão pequeno ao pé destas lágrimas
que me caem dos olhos,
frias e ardentes como balas.
Mar.
Lágrima de ninguém.
José Gomes Ferreira, in "Poesia I", Antologia Poética, Porto Editora, 1974.
Foto: Isabel Solano
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