
A liberdade é saber que ninguém ouve ou vê
o que em imaginada visão vou escrevendo
e que não é mais que a contingência de um instante
em que a palavra se aventura a não ser nada
Para quê a palavra se não vem de uma nascente
e se não abre um horizonte? Mas a palavra irrompe
do oriente que contém em si e é o vazio magnético
que transmuda o nada em mutação azul
Que posso ser eu mais que o vibrante vagar
em que do mundo só sinto a sua lonjura de veludo
e na página cintilam as brancas constelações?
Tal é o vago movimento da ingénua liberdade
que toca o seu extremo e cria o seu espaço
em que atravessa a sua ausência branca
António Ramos Rosa, in As Palavras, Campo das Letras, 2001
Foto: Isabel Solano
1 comentário:
O texto todo é lindo, mas levei este trecho comigo.
"A liberdade é saber que ninguém ouve ou vê
o que em imaginada visão vou escrevendo
e que não é mais que a contingência de um instante
em que a palavra se aventura a não ser nada"
Agora, vi o que você falou, ficou giríssimo.
Boa noite.
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