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terça-feira, abril 22, 2008

Abro O Medo


(...)
para sobreviver à noite decidimos perder a memória. cobríamo-nos com musgo seco e amanhecíamos num casulo de frio, perdidos no tempo. mas, antes que a memória fosse apenas uma ligeira sensação de dor, registámos inquietantes vozes, caminhámos invisíveis na repetição enigmática das máscaras, dos rostos, dos gestos desfazendo-se em cinza. escutámos o que há de inaudível em nossos corpos.
era quase manhã no fim deste cansaço. despertava em nós o vago e trémulo desejo de escrever.
(...)

Al Berto, in "À procura do vento num jardim d'Agosto", O Medo, 3ª ed., Assírio & Alvim, Lisboa, 2005.

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