Há um breve sufoco em cada vez que toco
essa face menos perceptível da vida,
onde a verdade me assusta, de tão despida,
e a ânsia de respirar, vital, me traz logo
à superfície, num mergulho que não forço,
em salto irresistível para este ar poluído
da inútil transparência que agora respiro,
sabendo tão bem que apenas engano a morte.
Assim é a verdade: tão clara e tão escura,
tão confusa, que sempre que a encontro, quero
perdê-la nesse mesmo instante. E nunca chego
a conhecê-la. Na dúvida que perdura,
embarco sem sair de terra. E nada levo,
senão a cegueira covarde a que me atrevo.
2/5/2008
Bárbara Pais, in Não Sei Falar de Mim, inédito, 2008
Fotografia: Isabel Solano
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