
PALAVRAS DUM AVESTRUZ TODO GRIZ
Arrancam-me as penas
E eu sofro sem dizer nada:
- Sou ave
Bem educada.
E, se quisesse,
Podia
Morder-lhe as mãos morenas,
A esses
Que sem piedade
Me roubam estas penas que me cobrem;
E, no entanto,
Sem o mais breve gemido,
O meu corpo
Vai ficando
Desguarnecido...
E elas,
Aquelas
Que se enfeitam, doidamente,
Com estas penas formosas
- Que são minhas!
Passam, por mim, desdenhosas
Em gargalhadas mesquinhas.
Sim; eu sofro sem dizer nada:
- Sou ave
Bem educada.
António Botto, in Fernando Guimarães (org.), Simbolismo, Saudosismo e Modernismo: Antologia de Poesia Portuguesa, Quasi, 2001.
Foto: Isabel Solano
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