
Sopram-se as palavras
como bolhas de sabão
delicadas;
soltam-se ao brilho da luz,
às mil cores
de reflexos matizados.
É então que,
depois de um breve rodopio,
estalam uma a uma
ante o pestanejar descrente
de quem vê perdida
tanta graça, num instante.
Sopram-se outras ainda,
devagar, com arte redobrada;
segue-as o olhar,
numa vã tentativa
de lhes prolongar a vida.
Mas não.
Estalam todas.
Morrem as palavras
para que vivam as memórias.
Guarda-se a água de sabão;
amanhã será mais dia
de ensaboar palavras.
Fevereiro de 2007
Luísa Veríssimo, in A Ponta Mentos, inédito, 2007
Foto: Isabel Solano
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