
MAS QUE SEI EU
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo, in "Monte Abraaão", Todos os Poemas - 2, 2ª ed., Assírio & Alvim, 2004.
Foto: Isabel Solano
1 comentário:
algumas coisas vem e vão
entretanto certas pessoas vem e ficam, como tua presença em nossas vidas.
Linda foto e texto de Ruy que no nome já diz, Belo.
Enviar um comentário