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sexta-feira, março 06, 2009

Porosidade etérea


MÁQUINA DO MUNDO

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.

Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão, in Jorge de Sena, Líricas Portuguesas, vol. I, Edições 70, Lisboa, 1984
Foto: Isabel Solano

6 comentários:

R de Regina disse...

Li o texto
Corri o olhar por toda a página e reencontrei o que escreveste sobre a paixão pelas letras.
Deixo para ti estas palavras emprestadas,porque só os apaixonados receberiam este versos que emprestei
Beijos


Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.


Eugénio de Andrade

isolano disse...

Obrigada, minha amiga!
São lindas estas palavras!

Alfredo Rangel disse...

Eugénio de Andrade foi um fantástico poeta português. Me agrada demais ler gente como você, Isabel, como a Chiara Luna reverenciando este poeta.
Parabéns pelo bom gosto.

beijos para as duas...

isolano disse...

Obrigada, Rangel, e sei que posso aqui agradecer também por Chiara.

VFS disse...

Eu peço-lhe desculpa, mas este poema não é do António Gedeão (Rómulo de Carvalho)?

Independentemente, é lindíssimo.

isolano disse...

Claro que é de António Gedeão!

A tag estava correcta. Fiz copy & paste de uma referência da mesma antologia e depois esqueci-me de substituir o autor.

Obrigada pelo reparo!